terça-feira, 28 de junho de 2011

6ºANO - O Gato de Botas - (Conto)

O GATO DE BOTAS
(Versão de Charles Perrault)

Era uma vez um moleiro muito pobre, que tinha três filhos. Os dois mais velhos eram preguiçosos e o caçula era muito trabalhador.
Quando o moleiro morreu, só deixou como herança o moinho, um burrinho e um gato. O moinho ficou para o filho mais velho, o burrinho para o filho do meio e o gato para o caçula. Este último ficou muito descontente com a parte que lhe coube da herança, mas o gato lhe disse:
__Meu querido amo, compra-me um par de botas e um saco e, em breve, te provarei que sou de mais utilidade que um moinho ou um asno.
Assim, pois, o rapaz converteu todo o dinheiro que possuía num lindo par de botas e num saco para o seu gatinho. Este calçou as botas e, pondo o saco às costas, encaminhou-se para um sítio onde havia uma coelheira. Quando ali chegou, abriu o saco, meteu-lhe uma porção de farelo miúdo e deitou-se no chão fingindo-se morto.
Excitado pelo cheiro do farelo, o coelho saiu de seu esconderijo e dirigiu-se para o saco. O gato apanhou-o logo e levou-o ao rei, dizendo-lhe:
__Senhor, o nobre marquês de Carabás mandou que lhe entregasse este coelho. Guisado com cebolinhas será um prato delicioso.
__Coelho?! - exclamou o rei.
__ Que bom! Gosto muito de coelho, mas o meu cozinheiro não consegue nunca apanhar nenhum. Diga ao teu amo que eu lhe mando os meus mais sinceros agradecimentos.
No dia seguinte, o gatinho apanhou duas perdizes e levou-as ao rei como presente do marquês de Carabás.
Durante um tempo, o gato continuou a levar ao palácio outros presente, todos dizia ser da parte do Marquês de Carabás.
Um dia o gato convidou seu amo para tomar um banho no rio. Ao chegarem ao local o gato disse ao jovem:
__ De hoje em diante seu nome será Marquês de Carabás. Agora, por favor, tire sua roupa e entre na água.
O rapaz não estava entendendo nada, mas como confiava no gato atendeu seu pedido.
O gato havia levado rapaz no local por onde devia passar a carruagem real.
esperto gato ao ver uma carruagem se aproximando começou a gritar:
__Socorro! Socorro!
Que aconteceu? - perguntou o rei, descendo da sua carruagem.
Os ladrões roubaram a roupa do nobre marquês de Carabás! - disse o gato.
__ Meu amo está dentro da água, ficará resfriado.
O rei mandou imediatamente uns servos ao palácio; voltaram daí a pouco com um magnífico vestuário feito para o próprio rei, quando jovem.
 O dono do gato vestiu-se e ficou tão bonito que a princesa, assim que o viu, dele se enamorou. O rei também ficou encantado e murmurou:
__Eu era exatamente assim, nos meus tempos de moço.
O rei convidou o falso marquês para subir em sua carruagem.
__ Será que a vossa majestade nos dá a honra de visitar o palácio do Marquês de Carabás? – perguntou o gato, diante do olhar aflito do rapaz
O rei aceitou o convite e o gato saiu na frente, para arrumar uma recepção par ao rei e a princesa.
O gato estava radiante com o êxito do seu plano; e, correndo à frente da carruagem, chegou a uns campos e disse aos lavradores:
__O rei está chegando; se não lhes disserem que todos estes campos pertencem ao marquês de Carabás, o rei mandará cortar-lhes a cabeça.
De forma que, quando o rei perguntou de quem eram aquelas searas, os lavradores responderam-lhe:
__Do muito nobre marquês de Carabás.
__Que lindas propriedades tens tu!- elogiou o rei ao jovem.
O moço sorriu perturbado, e o rei murmurou ao ouvido da filha:
__Eu também era assim, nos meus tempos de moço.
Mais adiante, o gato encontrou uns camponeses ceifando trigo e lhes fez a mesma ameaça: __Se não disserem que todo este trigo pertence ao marquês de Carabás, faço picadinho de vocês.
Assim, quando chegou a carruagem real e o rei perguntou de quem era todo aquele trigo, responderam:
__Do mui nobre marquês de Carabás.
O rei ficou muito entusiasmado e disse ao moço:
__ Ó marquês! Tens muitas propriedades!
O gato continuava a correr à frente da carruagem; atravessando um espesso bosque, chegou à porta de um magnífico palácio, no qual vivia um ogro muito malvado que era o verdadeiro dono dos campos semeados. O gatinho bateu à porta e disse ao ogro que a abriu:
__Meu querido ogro, tenho ouvido por aí umas histórias a teu respeito. Dizei-me lá: é certo que te podes transformar no que quiseres?
__ Certíssimo - respondeu o ogro, e transformou-se num leão.
__ Isso não vale nada - disse o gatinho. - Qualquer um pode inchar e aparecer maior do que realmente é. Toda a arte está em se tornar menor. Poderias, por exemplo, transformar-te em rato?
__ É fácil - respondeu o ogro, e transformou-se num rato.
O gatinho deitou-lhe logo as unhas, comeu-o e desceu logo a abrir a porta, pois naquele momento chegava a carruagem real. E disse:
__ Bem vindo seja, senhor, ao palácio do marquês de Carabás.
__ Olá! - disse o rei
__ Que formoso palácio tens tu! Peço-te a fineza de ajudar a princesa a descer da carruagem.
O rapaz, timidamente, ofereceu o braço à princesa e o rei murmurou-lhe ao ouvido:
__ Eu também era assim tímido, nos meus tempos de moço.
Entretanto, o gatinho meteu-se na cozinha e mandou preparar um esplêndido almoço, pondo na mesa os melhores vinhos que havia na adega; e quando o rei, a princesa e o amo entraram na sala de jantar e se sentaram à mesa, tudo estava pronto.
Depois do magnífico almoço, o rei voltou-se para o rapaz e disse-lhe:
__ Jovem, és tão tímido como eu era nos meus tempos de moço. Mas percebo que gostas muito da princesa, assim como ela gosta de ti. Por que não a pedes em casamento?
Então, o moço pediu a mão da princesa, e o casamento foi celebrado com a maior pompa. O gato assistiu, calçando um novo par de botas com cordões encarnados e bordados a ouro e preciosos diamantes.
E daí em diante, passaram a viver muito felizes. E se o gato às vezes ainda se metia a correr atrás dos ratos, era apenas por divertimento; porque absolutamente não mais precisava de ratos para matar a fome...



Vocabulário:

Moleiro: (mo. lei. ro) substantivo masculino sm..

1. Dono de moinho; MOAGEIRO; MOENDEIRO
2. Aquele que trabalha em moinho; que tem como ofício moer cereais.
3. Bras. Ornit. Ave (Amazona farinosa) psitaciforme, psitacídea, de coloração verde e amarela e asa encarnada; JERU; JURU; JURUAÇU; PAPAGAIO-MOLEIRO
4. Lus. Agr. Tipo de feijão.
[F.: Do lat. molinarius, a, um. Ideia de: mo(l)-.]
Fonte: Dicionário Eletrônico Caldas Aulete
Marquês de Carabás é o nome imaginário de um dos personagens do conto O gato de botas de Charles Perrault, publicado pela primeira vez em 1697 com Contos da Mamãe Ganso. Wikipédia, a enciclopédia livre.
Parte superior do formulário
Marquês: (mar.quês) sm.
1. Título de nobreza superior ao de conde e inferior ao de duque.
2. Homem que detém esse título.
[Pl.: -queses]
[F.: Do provç. marques.]
Fonte: Dicionário Eletrônico Caldas Aulete
Depois da leitura do conto, retire do texto pelo menos cinco palavras que você não saiba o significado e peocure no dicionários os respectivos significados;
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Fábula: (.bu.la) substantivo feminino. 1. Liter. História curta de onde se tira uma lição ou um preceito moral (fábulas de Esopo) 2. História imaginária, fantástica, ger. mentirosa: Não acredite, é tudo fábula. 3. Bras. Pop. Muito dinheiro: Aquele jogador ganha uma fábula.4. A história dos deuses e outras personagens do paganismo: os deuses da fábula. 5. Liter. Conjunto de fatos e aventuras (reais ou imaginários) que servem de base à ação de um drama, romance, epopeia ou conto. 6. Fig. Coisa ou pessoa de que(m) se fala muito, como objeto de crítica, de zombaria: As conquistas daquele ator são a fábula do meio artístico. [F.: Do lat. fabula.]
Conto1 (con.to) sm. 1. Liter. Narrativa falada ou escrita, breve e concisa, menor que o romance, ger. de uma única ação, com pequeno número de personagens em torno de um único ou poucos incidentes 2. Relato falso e enganoso; mentira que se conta a alguém; EMBUSTE; ENGODO 3. Conta, número, cômputo.4. Antq. Um milhão: um conto de réis.5. Ant. Pequeno disco de metal us. para calcular.6. Lus. Mil escudos.7. Lus. Medida de sal que se compõe de cinquenta rasas.8. Lus. Medida de ovos, equivalente a vinte dúzias.9. Moç. Vinte meadas de linho para o coradouro.[F.: Do lat. computus. Hom./Par.: conto (sm.), conto (fl. de contar)]
Conto da carochinha 1 Conto de fadas 2 Lorota, mentira.
Conto de Trancoso 1 Lus. Ver Conto da carochinha.
Conto de réis 1 Um milhar de mil-réis (q. v.). [Tb. apenas conto.]
conto2 (con.to)  1. Extremidade inferior da lança. 2. Ponteira de um bastão. 3. Mil. Extremidade em forma de globo de um canhão [F.: Do gr. kontós, pelo lat. contus. Hom./Par.: conto (sm.), conto (fl. de contar).]
Qual a diferença entre a fábula e o conto, segundo o dicionário?
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Voltando às Fábulas:
A GANSA DE OVOS DE OURO
Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo:
- Veja! Estamos ricos!
Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço.
Na manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço.
E assim aconteceu durante muitos dias.
Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria.
E pensou:
"Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!"
Matou a gansa e, por dentro, a gansa era igual a qualquer outra.
"Quem tudo quer tudo perde".
Autor: Esopo

domingo, 26 de junho de 2011

Introdução à Sintaxe Frase, Oração e Período - 7º ano e 9º ano (revisão)

Introdução à Análise Sintática de acordo com a Minigramática de Domingos Paschoal Cegalla, edição 2005.
1.      Noções Preliminares:
Segundo Cegalla (2005) a função da Análise Sintática é o exame da estrutura do período, pois ela “divide e classifica as orações que o constituem e reconhece a função sintática dos termos da oração”, (pág. 242).
Inicialmente, o autor dá uma ideia do que sejam os conceitos de frase, oração, período, termo, função sintática e núcleo de um termo da oração. Quando há a reunião das palavras, sejam elas escritas ou faladas, a reunião, a ordenação acontecem em frases. É graças à frase que, segundo o autor, se alcança o objetivo de toda atividade linguística: a comunicação com o ouvinte ou com o leitor.
2.      FRASE
De acordo com Cegalla(2005), frase é: “todo o enunciado capaz de transmitir, a quem ouve ou lê, aquilo que pensamos, queremos ou sentimos”. A frase pode aparecer das mais variadas formas: desde uma simples palavra, até um período mais complexo, onde há várias palavras reunidas.
São exemplos de frases:
a)      Socorro!
b)      Que frio!
c)      Cada um por si e Deus por todos!
d)      “Tudo seco em redor” (Graciliano Ramos)
e)      Hugo chegou à boca da caverna, mas não entrou, porque viu aranhas venenosas e, além disso, não havia trazido a lanterna.
Observações:
1ª As frases são proferidas com entoação e pausas especiais e indicadas na escrita pelos sinais de pontuação.
2ª As frases que não possuem verbos são chamadas de frases nominais. Um exemplo de frase nominal é: Tudo parado e morto.
Quanto aos sentidos que as frases podem possuir, elas podem ser:
*      Declarativas
*      Interrogativas
*      Imperativas
*      Exclamativas
*      Optativas
*      Imprecativas
Vamos à definição de cada uma delas:
DECLARATIVAS - são consideradas declarativas as frases que expressam uma declaração, ou seja, um juízo qualquer sobre algo ou alguém.
Exemplos:
a)      A reforma da estrada é uma obra inadiável ao governo.
b)      Minha tia não quis montar o cavalo velho.
 INTERROGATIVAS – são frases usadas para construir perguntas, ou seja, encerram uma interrogação.
a)      Por que você está triste?
b)      Você não tem medo?
IMPERATIVAS – são frases que contêm em si uma ordem, um pedido, uma proibição ou uma exortação.
a)      É proibido fumar.
b)      Cale-se! Respeite o ambiente do hospital.
c)      Por favor, feche a porta.
d)      Vamos, meu filho, ande mais depressa!
e)      Não corte essas árvores!
EXCLAMATIVAS – são frases que traduzem admiração, arrependimento, surpresa, etc.
a)      Como me enganei!
b)      Não voltaram mais!
OPTATIVAS – são as que expressam desejo.
a)      Bons ventos o levem de volta para casa!
b)      Oxalá não venham hoje!
IMPRECATIVAS – dão ideia de maldição, praguejamento, precação.
a)      “Maldição sobre teus descendentes, profeta do Mal!” (Ione Rodrigues)
As frases podem ser afirmar ou negar algo. Se afirma, a frase é chamada afirmativa. Quando nega, é chamada negativa.
Uma mesma frase pode ter sentidos diferentes de acordo com o modo que se lê, ou seja de acordo com a entoação que se dá. Vejamos.
Leia, respeitando a entoação:
Olavo esteve aqui.
Olavo esteve aqui?
Olavo esteve aqui...
Olavo esteve aqui?!
Olavo esteve aqui!
ORAÇÃO
É a frase de estrutura sintática que apresenta, normalmente, sujeito e predicado, ou,  excepcionalmente, só predicado.
1.       O pedreiro/construiu um muro sólido.      
O pedreiro – sujeito da oração
construiu um muro sólido – predicado
2.      Choveu muito ontem.
Choveu muito ontem – predicado
Em toda a oração há um verbo ou uma locução verbal. Na oração, as palavras estão unidas de maneira harmoniosa. Elas são termos ou unidades sintáticas da oração. Cada um dos termos desempenha uma função sintática.
NÚCLEO DO TERMO
É o elemento principal, ou seja, uma palavra principal (substantivo, pronome, verbo) de uma determinada estrutura sintática.
1.      Um estranho objeto apareceu no céu. (A palavra objeto é núcleo do sujeito nessa frase)
2.      A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas. (Já nessa, revestiu é núcleo do predicado)
Conforme o papel que desempenham, os termos podem ser: essenciais, integrantes ou acessórios.
PERÍODO
É a frase constituída de uma ou mais orações.
Quando o período é formado por uma única oração, é chamado período simples e nele há apenas um verbo (ou locução verbal).
a)      A cobra picou o trabalhador rural. (oração simples, pois há apenas um verbo)
O período é composto, quando formado por mais de uma oração. Há sempre mais de um verbo neste caso. Veja:
b)      Meu sabiá não comia nem cantava.
Observações:
*      A oração do período simples é chamada absoluta.
*      Quando escrevemos, abrimos o período com letra maiúscula e o fechamos com ponto final, ponto de exclamação, de interrogação, dois pontos ou reticências.
Referência Bibliográfica:
Domingos Pascoal Cegalla, Nova Minigramática da Língua Portuguesa, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005, pp. 243-245.

Nota: A minigramática do prof. Cegalla encontra-se disponível em bibliotecas das escolas públicas, pois faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Consulte-a sempre que necessário.

Ah, os irônicos, o que seria do mundo sem eles? A primeira parte do filme, em que o gênio Chaplin, satiriza Hitler, em "O Grande Ditador".

Estou ajeitando a Mudança e achei um quadro antigo, de quando era adolescente, com esse texto do Charles Chaplin: O Último Discurso, do filme "O Grande Ditador" e as imagens da Segunda Guerra Mundial

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Esopo - Fábulas - "O cão e o pedaço de carne"

Fábulas valem para todas as idades:

O cão e o pedaço de carne

Um cão atravessava um riacho, com um pedaço de carne na boca. Foi então que viu seu reflexo na água e pensou que fosse um outro cão, carregando um pedaço de carne ainda maior que o seu. Soltou, então, o pedaço de carne que carregava e se jogou na água para pegar o outro. Resultado: não ficou nem com um, nem com outro, pois o primeiro foi levado pela correnteza do rio e o segundo não existia.


Cuidado com a cuspidez.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

A melhor série da minha adolescência: Anos Incríveis - 1ª Temp - Ep. 1 parte 1/3

Biografia de Camilo Castelo Branco


A HISTÓRIA DO NOVELISTA CAMILO CASTELO BRANCO: UMA NOVELA


Ler a biografia de Camilo Castelo Branco (escritor português) é como ler suas próprias novelas: uma vida tão cheia de lances excepcionais, dramáticos, múltiplos e diversificados, quanto suas mais pródigas e comoventes histórias de ficção.
Nascido em Lisboa, em 1825, Camilo, filho natural, perde a mãe, Jacinta Rosa, aos dois anos de idade. Aos dez, fica órfão do pai, Manuel Joaquim Botelho. Estes funestos acontecimentos são decisivos para que ele venha a morar com sua tia, Rita Emília, em Vila Real, onde acaba conhecendo a tradição e os feitos aventurosos de sua família.
A fase seguinte, a da pré-adolescência, Camilo a passa em Vilarianho de Samardã, na casa de sua irmã Carolina, casada com o médico Francisco José de Azevedo. Lá, o então futuro escritor, começa a receber educação religiosa e intelectual (A educação na época não era para todos, era condição que só as famílias mais abastadas poderiam oferecer aos seus. Então, os mais pobres estudavam, desde que alguém os incentivasse financeiramente, uma espécie de padrinho ou mecenas).
Muito cedo, o escritor passou por amargas experiências em sua vida: a privação do próprio lar, com a perda dos pais, e a vivência sob outros tetos, por benevolência ou deveres de família.
Bastardo e órfão, Camilo atravessa sua fase de menino na vida folgazã e quieta da província.

UMA PERSONALIDADE TURBULENTA NA VIDA SOCIAL
E LITERÁRIA DO PORTO
Aos 16 anos de idade, o jovem Camilo já estava casado com a aldeã Joaquina Pereira, de 15. Casamento muito breve: logo escritor abandona a esposa e a filha e vai para a cidade do Porto, matriculando-se no primeiro ano da Escola Médica e da Academia Politécnica (Engenharia), cursos que, mais tarde, ele iria abandonar.
É aí, no meio portuense de 1844, que Camilo vai conhecer a vida da sociedade citadina, onde os ecos lisboetas (vindos de Lisboa, capital Portuguesa) e europeus chegavam mais rápidos... Alarga-se, assim, duplamente sua experiência: mundana e literária. Convém até mesmo lembrar alguns fatos mais empolgantes que caracterizam a vida social (ou, mais especificamente, passional) de Camilo a partir desta fase. Basta enumerá-los para ver o quanto foi tumultuada. Em 1845, o autor simula um duelo com Freitas Bastos, a fim de escandalizar a sociedade burguesa da cidade do Porto. No ano seguinte, 1846,  além de envolver-se numa guerrilha pela disputa de poder em Portugal, Camilo é preso junto com Patrícia Emília, cujo marido preferiu esta solução a um escândalo amoroso, em virtude da traição da esposa.  Neste mesmo ano ainda, o escritor se alista no exército, durante a briga de Dom Pedro, o antigo primeiro do Brasil, e o seu irmão Dom Miguel, que queria o poder da coroa em Portugal. O escritor luta, como soldado, em favor dos miguelistas. Em 1847, morre Joaquina, sua primeira esposa. No ano seguinte, Camilo sofre agressões, parece que por tentar seduzir a filha do governador. Em 1849, começa a relacionar-se com Maria Browne e passa a frequentar a alta sociedade portuense. Em 1850, provavelmente num baile da Assembléia, Camilo começa aquele que será considerado seu caso de amor mais rumoroso. Para muitos, sua relação mais duradoura e arrebatadora, um verdadeiro idílio, ao contrário dos outros relacionamentos do escritor que foram rápidos, a exemplo da vez em que se envolveu com a freira Isabel Cândida. Ana Plácido era casada com Pinheiro Alves.  Em 1851, por conta de notícias maldosas ou satíricas, Camilo briga com o diretor de um jornal A Pátria. A briga acontece no saguão do Teatro São João, com direito a muitas cacetadas na cabeça do diretor. Em 1852, Camilo é ferido por Ricardo Browne, marido de sua também amante Maria Browne. Esta não foi a única encrenca em que o escritor se meteu. Em 1855, Camilo assume a condição de amante de Ana Plácido. Como adultério era crime naquela época, previsto em lei e com pena de prisão, Ana Plácido e Camilo são procurados em 1861, por conta de um mandado de prisão que foi expedido pela justiça local. Camilo passa a viver escondido, mudando de esconderijo a cada semana, até que, tempos depois, ele se apresenta à Justiça. Fica preso por 384 dias na Cadeia da Relação, na cidade do Porto. As duas vezes em que Camilo esteve preso sob a acusação de adultério ou, como preferem alguns biógrafos, o eufemismo: “por motivos de amores”.
 Enquanto tudo isso acontecia, forjava-se a formação artística de Camilo como escritor, por meio de seus contatos com a chamada Geração Romântica Portuguesa, um grupo de escritores e intelectuais, que viviam no Porto e transformaram o modo de pensar naquela época. As intenções libertárias, cujos reflexos chegam aos escritos do autor, sob forma de reação ao gosto clássico, estendiam-se em direções variadas, desde a fé religiosa até os pontos de vista político-sociais.
O ambiente da cidade do Porto, de meados do século XIX, deve ter provocado conflitos íntimos em Camilo Castelo Branco, criado, na infância, à sombra do modelo de obediência, ditado pelas normas religiosas. Os jovens de então atentos à voz dos sentimentos, procuravam adotar outra atitude perante a vida, contrariando a imposição de princípios sociais e literários. Assim, no ânimo do escritor, que se iniciara no mundo da cultura clássica (o estudo) pelas mãos do aldeão padre Azevedo, as novidades em contrário exerciam forte impressão, conforme ele próprio declararia em 1845. Camilo certamente foi influenciado pelos autores do Romantismo em Portugal, como Antônio Feliciano de Castilho, de quem foi amigo por muitos anos, e também por Alexandre Herculano e Almeida Garret, cujas obras Camões e Frei Luís de Sousa já estavam publicadas.
A ESCALADA FINAL
Sob o peso de suas aventuras (ou desventuras, como queiram) Camilo não deixou de ser um incansável escritor, até a derradeira paragem, em São Miguel de Seide.
   Ao sair da prisão do Porto (durante o tempo em que esteve preso, Camilo leu muito e escreveu quatro obras, entre elas Amor de Perdição e seis dos Doze casamentos felizes), produziu um rosário de novelas. Basta lembrar que, no ano seguinte, além das obras já mencionadas, o autor publicou ainda quatro novelas e um drama (peça teatral). O período agitado por suas aventuras mundanas – que terminou com a ligação, para sempre, com sua amante Ana Plácido –, Camilo transfere sua vigorosa vitalidade para sua vida literária, mesmo porque preocupado com a manutenção da família, tornou-se escritor por ofício: criou novela após novela, fez jornalismo, traduções, crítica literária, além de outras modalidades esparsas de literatura.
Em 1863, já doente, transfere-se para São Miguel de Seide e, aí, escreve mais quatro obras, entre elas Amor de Salvação. Mas viverá ainda algum tempo no Porto, onde continuará a publicar entre os anos de 1865 e 1866, quando volta para Seide.   Cria então mais oito novas histórias, entre elas, A Queda dum Anjo.
Em 1867, agrava-se o estado de saúde do escritor, mas sua produção literária continua.
As penas da vida começam, entretanto, a dar cabo de Camilo: Jorge, seu primeiro filho com Ana Plácido, enlouquece; seu grande amigo Vieira de Castro, depois de assassinar a mulher por adultério, morre em Luanda, África, em 1872. Manuel Plácido, filho do primeiro casamento de Ana, a quem Camilo muito estimava, morre em 1877 (quase trinta anos após a morte de sua filha com Joaquina Pereira, sua primeira esposa). Em 1881, o autor promove o rapto de uma rica herdeira com quem casa seu filho mais novo, Nuno. Mas, pouco depois, Camilo acaba por expulsá-lo de sua casa. As dificuldades financeiras levam-no a leiloar sua biblioteca, de cerca de 5000 volumes, e seus problemas visuais acentuam-se. Finalmente, a nora e a neta morrem e o filho Jorge precisa ser internado num hospital da cidade do Porto. Em 1887, sua cegueira é quase completa.
Às 15 horas e 15 minutos do dia 1º de junho de 1890, Camilo resolve pôr um ponto final na novela de sua própria vida: enquanto Ana Plácido acompanha até a porta o médico que viera examinar-lhe os olhos e o desiludira, ouve-se um disparo de revólver. Camilo suicidara-se com um tiro no ouvido direito.
(Maria Aparecida Santilli, Literatura Comentada: Camilo Castelo Branco (1825 – 1890), São Paulo: Editora Abril, 1980.)