A NOTÍCIA E SUA ESTRUTURA
Professora Joanita Mota Ataíde Universidade Federal do Maranhão
A notícia é formada por três partes: título, cabeça e corpo.
2- TÍTULO
O “(...) título é a frase (...) composta em letras grandes que se dispõe acima do texto, com a finalidade básica de dar ao leitor uma orientação geral sobre a matéria que encabeça e despertar o interesse pela leitura”. (Joaquim Douglas, 1966)
3- CABEÇA
A cabeça ou lead (lê-se lide) é a introdução ou abertura de uma notícia ou reportagem. O lead em geral é constituído do primeiro parágrafo. A palavra provém do inglês, que significa “comando”, “primeiro lugar”, “liderar”, “guiar”, “induzir”, “encabeçar”.
3.1- CONCEITOS
Tendo em vista seu significado na língua de origem e o uso que dele é feito no jornalismo, o lead é a abertura de uma notícia, reportagem, etc., onde (segundo Fraser Bond) se apresenta sucintamente o assunto ou se destaca o fato essencial, o clímax da história.
Concebe-se o lead também como um resumo inicial, constituído dos elementos fundamentais do relato a ser desenvolvido no corpo do texto jornalístico.
3.2- OBJETIVO
O lead torna possível ao leitor, que dispõe de pouco tempo, tomar conhecimento do fundamental de uma notícia em rápida e condensada leitura do primeiro parágrafo. Sua leitura pode, também, “fisgar” o interesse do leitor e persuadi-lo a ler a matéria, até o final.
3.3- CONTEÚDO
Na construção do lead, o redator deve responder às questões básicas da informação: o quê, quem quando, onde. As demais perguntas básicas, dada sua natureza – as circunstâncias (como) e as causas (por que) – podem ser respondidas nos parágrafos posteriores, ou mesmo deixarem de ser contemplados na primeira notícia acerca de um fato, dependendo da natureza deste.
Para Fraser Bond (19??), o redator deve observar cinco exigências do lead:
· “apresente um resumo do fato
· identifique os lugares e as pessoas envolvidas
· destaque o toque peculiar da história
· dê as mais recentes notícias do acontecido
· e, se possível, estimule o leitor a continuar lendo o resto da reportagem.”
Podemos ainda acrescentar outra função do lead: situar a notícia em um contexto mais amplo, esclarecendo o leitor a respeito de fatos passados ou de fatos interligados. Estes últimos tanto podem ser passados quanto simultâneos à notícia.
3.4- TIPOS DE LEAD
Há várias maneiras de introduzir uma matéria jornalística. Portanto, há diversos tipos de lead. Vejamos algumas classificações, segundo os autores abaixo:
3.4.1- FRASER BOND
Entre os principais tipos, o autor destaca os seguintes:
(1) CONSENSADO (INTEGRAL)
Sumariza todos os fatos principais de maneira clara e sempre uniforme. É muito comum nos despachos internacionais. Ex.:
Subiu a 545 o número de mortos no terremoto que atingiu anteontem a região centro-sul do Irã, deixando mais de 600 geridos, alguns inválidos, e destruindo totalmente três aldeias. Segundo as autoridades, serão necessários vários meses para que os 4.500 sobreviventes das 12 cidade atingidas possam levar uma vida norma. (OESP, 22/12/77)
(2) DE APELO DIRETO (PESSOAL, INTIMISTA)
Utiliza o interesse da participação do leitor, a ele se dirigindo diretamente. Ex.:
Se você pretende viajar no seu carro neste fim de semana, encha o tanque mais cedo. Por determinação do Ministério das Minas e Energia, os postos de todos o Brasil funcionarão apenas até as 17:00 horas desta sexta-feira.
(3) CIRCUNSTANCIAL
Dá ênfase às circunstâncias nas quais ocorreu a história a ser narrada. Estilo característico das matérias com um toque humano mais acentuado, ou seja, que apelam ao emotivo. Ex.:
Embora tivesse medo de magoar seu marido, vasco doente. Maria da Silva não conseguiu contar uma expressão de alegria quando o radinho de pilha anunciou o primeiro gol de Zico. Sua simpatia pelo Flamengo de divórcio na 2ª Vara da Família.
(4) DE CITAÇÃO DIRETA ou “ENTRE ASPAS”
Começa com uma declaração ou citação, que reflete o aspecto principal das idéias da pessoa focalizada. Esta prática, muito comum na maioria dos jornais, esteve condenada por algum tempo, pelas normas de redação do Jornal do Brasil, “salvo nos casos em que a frase ou a citação estejam destinadas a passar à História (o que, aliás, é sempre duvidoso, e implica julgamento temerário).”
Para Nuno Crato (1982), esse tipo de lead só deve ser empregado quando a notícia se revela de natureza delicada ou controversa. O exemplo seguinte é de Lago Burnett (1985, p.25)
“Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus”, afirmou ontem, a certa altura do seu Sermão da Montanha, o Rabi da Galiléia, perante uma multidão de molhares de pessoas, entre as quais, seus assessores de imprensa – Lucas, Mateus, Marcos e João – que documentam a precatória para posterior publicação em livro.
Outra maneira, muito usada, de inserir uma declaração no lead é deixá-la para o início do segundo parágrafo, precedida de travessão.
(5) DESCRITIVO
Apresenta uma visão do lugar onde a notícia ocorreu (descrição do cenário) e descreve as pessoas nela envolvidas. A descrição das pessoas pode ser de ordem física, mas também de ordem psicológico-comportamentais. Ex.:
De bermudas, tênis Adidas e uma camisa de malha, o ex-Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República deu ontem sua primeira entrevista política (...) (JB, 10/01/87)
3.4.2- NUNO CATRO
(1) INFORMATIVO: Quando resume o essencial da matéria.
(2) INICIATIVO: Não resume o essencial; antes, chama a atenção do leitor para um ou vários aspectos particulares que, contudo, dão idéia do tema que vai ser
desenvolvido. As regras acerca desse tipo de lead são vagas. No entanto, Nuno Crato encontrou, através de pesquisas, as seguintes características desse tipo de abertura:; entrada curta (relativamente ao texto); pormenores característicos, como declarações que dêem idéia da matéria; descrições históricas ou de natureza social, que introduzam o tema.
(3) CITAÇÃO: já descrito acima.
3.4.3- OUTROS TIPOS
Vários outros tipos de lead podem ser ainda lembrados, como os seguintes:
a) Ativador de interesse, sensacionalista ou de impacto: começa com um item de peso emocional, capaz de captar a atenção para o texto;
b) Numeração: relaciona os principais assuntos da matéria, numerados em linhas separadas;
c) Por contraste: contrapõe elementos contraditórios – opiniões, informações circunstâncias, etc. – para obter um efeito expressível;
d) Originais (segundo Fraser Bond): fogem a qualquer classificação, por serem “variações excêntricas da norma primitiva.”
4- O LEAD E O ESTILO JORNALÍSTICO
4.1- DEFENSORES/CONTESTADORES
A validade do lead no moderno jornalismo é contestada por alguns, que o consideram “quadrado”, elementos aprisionador da criatividade do jornalista. Seus defensores, por outro lado, consideram-no, ainda hoje, a melhor técnica jornalística de abertura do texto informativo, um recurso de validade sempre renovada, desde que usado inteligentemente. Em defesa do lead, costuma-se alegar a versatilidade dos seus elementos, não sendo considerado, portanto, um modelo “quadrado”.
4.2- TRADIÇÃO/CRIATIVIDADE
Realmente, nada impede que seja criativamente alterada a ordem dos elementos da fórmula ultradireta do lead tradicional (representada pela fórmula “3Q – CO – PR, ou seja, quem faz o quê e quando, seguindo-se as explicações de como, onde e por quê). Além de se trazerem para o lead somente as informações mais fundamentais da notícia, é possível obter um impacto maior, dispondo-se essas informações também em ordem de importância, na própria construção do lead. Assim, a relação poderá ser iniciada com o por quê, o como, ou com qualquer dos elementos da informação, de acordo com o assunto e as circunstâncias em que os um dos elementos em relação aos demais. Na própria seleção dos elementos a serem incluídos no lead, o redator põe em jogo a sua criatividade.
O estilo jornalístico implica geralmente regras expressas sobre a confecção do lead: suas dimensões (número mínimo e máximo de linhas), a divisão em dois parágrafos (lead e sublead), a disposição dos seus elementos, etc.
5- SUBLEAD
5.1- CONCEITO/ORIGEM
Segundo parágrafo do texto jornalístico, resultante do desdobramento do lead. O sublead é criação do jornalismo brasileiro, e inexistia na imprensa norte-americana e também na inglesa, de onde importamos a técnica do lead, na década de 50.
5.2- FUNÇÃO
Existem posições discordantes sobre sua importância e sua função no texto do jornal. O sublead é considerado, por alguns, apenas um recurso gráfico (“uma ficção tipicamente regionalista”, segundo Lago Burnett (op. cit., p.23), destinado a situar melhor a notícia, visualmente, dentro da página. Outros o consideram um recurso de grande valor para a articulação do texto: um parágrafo imediato ao lead, “(...) onde se agrupam os fatos cuja ordem de importância é inferior aos do lead ou onde se desenvolvem aqueles fatos
mencionados anteriormente.” – Juvenal Portela. Nesta acepção, o sublead tem a função de disciplinar o desenvolvimento da narrativa, como um pescoço equilibra a cabeça (o lead) em relação ao corpo da notícia.
6- SUÍTE
Ato ou efeito de desdobrar uma notícia já publicada anteriormente pelo próprio ou por outro. Técnica de dar continuidade à apuração de um fato (já noticiado), que continua sendo de interesse jornalístico, mediante o acréscimo de novos elementos, para a atualização do fato inicial e seus subseqüentes.
7- FORMAS DE ESTRUTURAR A NOTÍCIA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
BOND, Fraser.
BURNETT, Lago. A Língua envergonhada. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cena, 1985. (Comunicação Social)
CRATO, Nuno. A Imprensa. Lisboa: Presença, 1982. (Iniciação ao Jornalismo e à Comunicação Social, I).
DOUGLAS, Joaquim. A Técnica do título. Rio de Janeiro: Agir, 1966.
Fonte: http://lucajor.vilabol.uol.com.br/estrutnot.htm
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